Jack-O-Mania XVI

O Armageddon realmente foi um PPV que puxa a discussão. Devido ao quadro da WWE no momento e aos resultados, assim como o desenrolar das lutas, não há como falar sobre ele. Sem falar é claro de um dos momentos mais esperados do ano, o título de Jeff Hardy. Sendo assim, decidi me juntar aos blogueiros que já falaram sobre o assunto para trazer algumas opiniões sobre os acontecimentos "antes, durante e depois" deste show que é um divisor de águas na WWE.

Aconteceu na WrestleMania 2000:

The Hardy Boyz, Edge e Christian e Dudley Boyz lutaram em uma luta de escadas pelo título de duplas, que entrou para a história do Wrestling mundial como um dos melhores combates de Tag, assim como um dos melhores combates de escada de todos os tempos. Já no Main Event, The Rock, Triple H, Mick Foley e Big Show se enfrentaram em uma Fatal 4 Way pelo título da WWF, com vitória de The Game sobre The Rock.


Parei de assistir a WWE no Survivor Series e acredito que isto não é novidade para ninguém que me acompanhe. O fato é que em um PPV que tudo ocorria bem e inclusive é uma das minhas datas preferidas no calendário do Wrestling, assisti a uma volta prematura de Edge. Não que eu não goste de Edge, ou que o Edge seja culpado disso tudo. Diria que foi apenas o fim da picada, o ponto em que o copo transbordou. O Rated R Superstar voltou após um hiato, causado pela vingança de Undertaker em um magnífico combate no denominado "Inferno na Jaula". Segundo a história indicava, era para o inferno mesmo que Edge havia rumado. Logo em seu retorno, Edge atropelou todos os combatentes e mais, todas as storylines e se sagrou campeão. Vale lembrar que Edge assumiu o posto de Jeff Hardy no combate, já que Jeff Hardy foi encontrado desacordado em seu quarto no hotel, de acordo com o site da WWE (Kayfabe*). Isso em seqüência aos abandonos repentinos das storylines de Shawn Michaels e Chris Jericho, Rey Mysterio e Kane e qualquer outra em andamento.

É justamente isto que me irritou na época. Não que eu seja um torcedor do Jeff Hardy, na verdade não sou do tipo torcedor (não que para mim isto seja um demérito, mas somente Shawn Michaels e Undertaker conseguem me fazer vibrar últimamente), mas a falta de continuidade da WWE é de certa forma desconcertante. Descrevo minha frutração com estar assitindo um filme que começou lento, mas finalmente empolgou e justo nesta hora, alguém chega na sala e retira o filme, colocando uma comédia pastelão no lugar. Ora, Edge? Justo quando Jeff Hardy, Kozlov e Triple H começavam a fazer algo realmente interessante? Ué, Edge? Justo agora que Undertaker havia se livrado de Big Show e Chavo Guerrero, deixando Vickie desprotegida? Sim, Edge. Sinceramente, Edge voltando de um hiato, se tornando campeão de maneira repentina, aos amores com Vickie Guerrero e ainda elencando #1 Contenders através de Beat The Clock Challenge foi exatamente o que eu vi durante o final de 2007 e o início/meio de 2008. Será que é isso que quero ver em 2009?

Um amigo disse que se eu não aguento isso, não aguento acompanhar histórias em quadrinhos americanas. Olhando bem, não aguento mesmo. Compro apenas mini-séries, pois preciso de conclusões. História sem fim, chega a ser uma ofensa a minha inteligência. Mais tarde entendi que toda a mudança de planos foi fruto da volta das férias de Stephanie McMahon, chefe do departamento criativo da companhia.



O fato é que depois de semanas de críticas, chega o Armageddon e decido "oferecer" a WWE (como se importasse) uma chance a me conquistar novamente. O show não emplaca de início. Matt e Kozlov são dois lutadores técnicos, especialmente Kozlov. Suplexes e Neckbreakers fazem parte do arsenal de ambos, porém se Matt possui um pouco mais de agilidade, Kozlov possui uma tonelada ou duas a mais de força. Os dois lutaram no ringue e desceram também, mas a luca não empolgou. Foi democrática. Talvez porque todos percebiam que, sendo esta uma Non-Title Match, Matt Hardy seria derrotado. Formula simples para dar uma luta a ECW, manter Kozlov em PPV e com sua Streak em combates 1-1, sem prejudicar Matt Hardy de maneira alguma. Vitória de Kozlov.

Nessa hora até penso que um combate assim é normal para o primeiro da noite, mas lembro dos shows de ROH e em ver Delirious enfrentando Austin Aries para início do Driven 2008. E olha que a produção não chega aos pés...



O show continua com Rey Mysterio e CM Punk pela final do torneio do Título Intercontinental, onde o campeão ganharia uma chance ao título de William Regal. Ora, CM Punk e Rey são dois dos melhores lutadores in-ring da WWE atual, não há dúvidas. Os dois aguentam impacto, possuem ritmo de combate, exploram bons spots e tem características bem marcantes. Com tantos elementos, a vontade de fazer deste combate algo disputado e bonito de se ver, realmente me agradou. Uma luta e tanto, culminou com a vitória de CM Punk, após acertar o nariz de Rey Mysterio com seu joelho em mais um GTS fulminante.

Olha Punk, tome cuidado. Daqui a pouco Vince acha esse move perigoso também e o proíbe. Já pensou?



Finlay e Mark Henry em uma belfast brawl foi mesmo um improviso. Esse Hornswoogle estraga o personagem irlandês, mas como já caiu nas graças da criançada, o baixinho ficará aí por muito tempo. A belfast brawl é apenas uma "Extreme Rules" com nome irlandês em homenagem ao homem que ama lutar. Senti falta de spots mais arriscados, senti falta do uso de algum "brinquedo" não usual, mas ficou no “basicão” mesmo. O show neste combate ficou por conta da dupla de narradores. "Essa não é apenas uma latada na cabeça normal. É uma latada na cabeça dada pelo Mark Henry!".



A luta entre divas foi exatamente aquela luta padrão de Divas da WWE: várias divas de um lado, várias do outro. Mesmo com alguns highlights e até uma possível evolução de Maria, é aquela velha história. Duas se enfrentam em 1-1, fazem tags, trazem ao corner, alguém distrái o juiz e fica nisso mesmo. É triste ver uma divisão sendo tratada como simplesmente um bibelô. Não que antes não fosse assim, mas a cada dia mais as divas só servem como cheerleaders. Não tem feud, não tem nada, mas sobem no ringue para fazer uma luta x contra x com temas do feriado mais próximo. Essa semana comecei a assistir um show da SHIMMER. Ver a Sarah Stock aplicando um Tiger Driver com perfeição, é uma prova viva de que as mulheres podem demonstrar sua incrível habilidade no ringue sem perder a sensualidade, além de uma constatação voraz que tem mulher levando a sério, não querendo ser apenas um biquíni a mais na TV.



Ao menos gosto muito quando alguém do passado vem a um PPV. São pessoas carismáticas e agradam a todos os fãs, sem dúvida alguma.
Batista e Randy Orton se enfrentaram em um combate importante. Não valia nada, mas mesmo assim julgo importante, pois esta guerra pessoal de Randy Orton e Batista é o motivo da criação da stable de wrestlers de 2nd e 3rd gerações. Digo isto porque Randall Keith Orton só se une alguém atualmente, para usá-los como peões de xadrez dentro dos seus objetivos obscuros: atualmente uma chance ao título e posteriormente se tornar novamente campeão mundial. O combate em si foi agradável, diria que foi um dos melhores do Batista de longe, porém não posso dizer que foi um dos melhores combates de Orton. Não que a performance de Randy tenha sido ruim, pelo contrário, mas é que Randy Orton já esteve envolvido em combates muito melhores do que este, já Batista, nem tanto. Isso deixa bem claro a diferença de nível entre os dois, mesmo com a vitória do animal.



John Cena e Chris Jericho foi qualquer coisa burocrática, não me empolgou ou comoveu. Na verdade ficamos até sem saber o que comentar. Só posso dizer que John Cena sabe ser um campeão, e se não fosse pela “forcação de barra” de certos dirigentes e comentaristas em tentar enfiar John Cena guela abaixo (agora então, que voltaram com esse papo de “The Champ is Here”) todos gostariam muito dele. Em pensar que ele já começou a aparecer na Televisão lutando contra Kurt Angle, fugindo de um Ankle Lock e um Angle Slam, pra só ser derrotado após Kurt Angle aplicar uma manobra da luta-livre olímpica, recebendo parabéns até de Undertaker. Ele até poderia ser um personagem mais interessante, mas todavia, acredito que a melhor escolha era deixar o título com Cena. Ele vai levar bem o show e seus fãs com certeza ficarão felizes. Por outro lado, seus críticos continuarão interessados no show para ver John Cena sendo derrotado.




Finalmente chegou o Main-Event: Uma Triple Threat Match entre Edge, Triple H e Jeff Hardy.

Jeff usa uma nova maquiagem, algo rebelde, forte, estranho. Sua nova pintura lembra muito Heath Ledger em "Batman, o Cavaleiro das Trevas" e sua fúria, beira a insanidade assim como o personagem coringa.

Sejamos críticos: o combate não começou bem. Jeff Hardy é um ótimo lutador, mas falta força! O início do combate com algumas "running clotheslines" não convenceu mesmo. Jeff apenas encostava nos adversários, como quem encosta com cuidado em um vaso da dinastia Ming. Cabia a Triple H e Edge caírem e simularem uma dor muito falsa. A sorte dele é que no início do combate, todos estão calmos, esperando a coisa pegar fogo. Jeff também ficou alguns tempos meio parado no ringue, como quem estava tão empolgado que havia esquecido o que fazer. Mas mesmo com esses problemas no decorrer da luta, foi muito bom ver Jeff jogando pra frente, atacando com todas as armas que estavam a sua disposição. Sem dúvida nenhuma, os spots de destaque como o Whisper-in-the-Wind com Edge na "Electric Chair", ou ainda o Spear recebido na mesa dos comentaristas foram momentos de altíssimo destaque. E esses são só exemplos, pois as swantom bombs bem aplicadas, as quedas altíssimas do corner, deram o elemento “Oh my God!” que a luta precisava. Sendo assim, em um combate onde acredito que Jeff só errou em sair da sua característica no início e tentar aplicar golpes de força sem sentido (que saíram todos errados, até mesmo a Irish Whip não ficou legal), Jeff recuperou a concentração para fazer uma atuação digna de receber o título.



Edge estava inspirado, sem dúvida. Uma coisa que não gosto em Triple Threat Matches, especialmente as da WWE, é que sempre alguém é arremessado para fora do ringue e demora duas horas pra voltar, quando em uma luta single, o mesmo arremesso não causaria tanto tempo de recuperação. Tudo bem, isso é feito para resolver o problema de que um aplica o movimento e outro recebe, com o terceiro ficando sem oponente para trabalhar. Porém, o Rated R Superstar estava no combate e em uma luta com Edge, esse tempo lá fora se torna completamente aceitável. Aceitável, pois conhecendo o Edge, todos esperam que ele retorne ao ringue do tempo de fora no momento certo, para fazer algo brilhante. Afinal, “The Ultimate Opportunist” te diz alguma coisa?

Um ponto muito interessante da performance de Edge é que ele não fugiu do combate, mas ficou atento para aproveitar os spots certos. Aquela Spear na mesa foi espetacular. Tanto pela preparação das mesas ter sido feita aos poucos (como se fossem utiliza-la para outra coisa, como o pedigree de Triple H), como por Triple H escapar do “spear duplo” no último instante!

Edge estava caído, aparentemente fora da cena. O momento era entre Triple H e Jeff Hardy. Triple H preparando-se para um pedigree na mesa (que sempre me lembra da última contusão dele), Jeff escapando e derepente: bam. Isso sim é o Edge. Excelente performance. Só não gosto mesmo de Edge, quando ele fica fazendo barulho com a boca enquanto soca alguém, ao estilo “tchu, bang..tchan”. Totalmente desnecessário. Faça barulho com os pés ou deixe que quem está apanhando valorize. Esse barulhinho é muito “Van Damme” para um show ao vivo. Pior que isso não é de hoje, mas quando feito no turnbuckle, próximo a microfones, fica ainda mais audível.
Falando em show, Triple H foi um show a parte. Algumas pessoas reclamam, pois ele não tem a mesma habilidade aérea de Edge e Jeff Hardy, então não é dele tentar spots tão arriscados. Porém Triple H tem força, coisa que nenhum dos outros dois tem. E com sua força, tudo o que Triple H faz parece que dói e muito. Spinebusters, slams, neckbreakers, backbreakers! Mas além de Triple H usar a sua força e presença de ringue (não adianta. Com Triple H no ringue, sempre dá a impressão de que ele é o dono do pedaço, mesmo que perca. Talvez pela maneira de andar, de se impor. Não sei explicar mesmo!), Hunter também sabe valorizar muito bem, quando quer, os momentos em que apanha dando um tom de realismo aos ataques dos oponentes que faz da luta um grande mistério!

E vamos combinar que os jogos mentais de Triple H durante o combate são um tempero muito interessante. O apelido “The Game” não encaixaria em outro tão bem quanto em Triple H que fez uma exibição de gala junto com seus parceiros, em uma luta onde ninguém conseguia definir quem sairia vencedor até o mediador contar três.
Não posso esquecer é claro, das interferências de Matt e Kozlov. Ficou confuso se isso é um início de feud entre os dois, ou se Kozlov estava ali com raiva de não participar do combate e Matt protegendo seu irmão. Fiquei curioso para saber se isso terá repercussões, ou se foi apenas mais um elemento, como uma cereja do sorvete, para abrilhantar a noite. Todavia, os socos de Kozlov doem em mim, e quando ele demonstra que nada doeu nele, dá realmente a impressão de que ele é um monstro. Mas preciso concordar com meu amigo Uncle Johnny quanto ao sentimento “Adoro assisti-lo no ringue, odeio assisti-lo fora”.



O final do combate foi histórico e ver Jeff comemorando seu título foi uma surpresa muito grata. Não gosto de quando alguém ganha o título e não explode de alegria, comemora do jeito “eu já sabia”, como ocorre, por exemplo, com....Batista! Jeff Hardy simplesmente enlouqueceu com o cinturão em suas mãos! E essa alegria, super positiva, tomou conta do ginásio em um dia que entrou para a história do Wrestling Mundial.

Por isso fecho meus pensamentos sobre o PPV dizendo que colocaram novamente o meu antigo filme para tocar, agora que verei um reinado diferente de um personagem confuso como Jeff Hardy possui no momento. “Undertaker” sumiu, mas será que agora ele vai atrás de Edge? E Triple H? Irá atrás de Kozlov? Agora sim, realmente “só sei que nada sei”, mas com gosto e prazer. Em minha opinião a WWE consertou tão bem a lambança de dar o título ao Edge, que até começo a achar que foi bom para criar essa expectativa e revolta (embora eles tenham perdido aí algumas semanas da atenção de alguns fãs, como eu). E que a WWE tome esse PPV como lição de que, me surpreenda sim, mas não ofenda a minha inteligência.