O Espírito de Luta nunca morrerá

Entrei em estado de choque quando me passaram a notícia pelo MSN. “Lenda do pro wrestling japonês, Mitsuharu Misawa faleceu hoje, dia 13, durante um combate pela Pro Wrestling NOAH, federação de qual era presidente. Misawa perdeu sua consciência após receber um Back Suplex, ou Backdrop, como costumam chamar os japoneses. Paramédicos tentaram reanimá-lo, porém, sem êxito. Ele foi levado ao hospital quando começou a ficar roxo, e foi declarado morto aos 46 anos de idade.”

O segundo homem a ter a honra de lutar sob o nome de Tiger Mask, cinco vezes AJPW Triple Crown Heavyweight Champion, três vezes GHC Heavyweight Champion (NOAH), nomeado Wrestler of the Year por três vezes pelo respeitadíssimo jornal Wrestling Observer Newsletter, criador e presidente da Pro Wrestling NOAH e detentor do recorde de 24 combates cinco estrelas. Este foi o mesmo Misawa que nos deixou, ontem.

Dia 12 de Junho, minha namorada ainda não havia aparecido e estava eu vagando pela internet. Resolvi entrar no YouTube, e lá estava um colega meu compartilhando a música tema quee Misawa usou este ano. Seu nome: “Spartan X”. Nome simples, para alguém cuja presença é venerada e respeitada em todo o mundo do pro wrestling; mas, o nome diz tudo. Ele foi escolhido para ter algo, que muitos wrestlers no Japão sonham em um dia ter, algo que a maioria dos wrestlers do ocidente não faz noção do que seja. Não é dinheiro, nem respeito, nem admiração, nem fãs. Conhecedores de puroresu sabem o que é, e o quão honroso é tê-lo: FIGHTING SPIRIT.

Mitsuharu Misawa não foi somente um nome glorificado no wrestling. Ele tornou-se uma lenda, um ícone, um ídolo e agora, um mito. Um dos maiores, se não o maior. Tendo uma carreira de mais de vinte e cinco anos, Misawa tornou-se uma luz na escuridão que tem reinado no mundo da luta livre. Ele tinha paixão pelo que fazia, ele se entregava de corpo e alma para encher os corações daqueles que precisam de um herói. Era isso que ele era: um herói. Seus combates não eram apenas um show, uma demonstração de força, resistência e habilidade... eram sua obra-prima, aquela que só vem da alma.

Creio que era por volta das três da manhã quando comecei a assistir o vídeo do acidente. O povo quieto a princípio, esperando Misawa se levantar – ele não o fazia. Algo estava errado, o povo se levantou para ver. Logo, o camarim todo estava saindo para ver o que houve com o seu mentor. O povo via faces e heels ali, para saber o que houve com ele, para ajudar, quem sabe? Algo estava muito errado. O silêncio tornou-se desespero, gritos de descrença que aquilo estava acontecendo dominaram a pequena arena. O rosto de Akihito Saito, o responsável pelo Backdrop, refletia a situação no ringue. Era o grande Misawa que estava ali caído no chão! Um Backdrop? Ele já sobreviveu a coisas piores! Porque aquilo tinha que acontecer? Chegaram paramédicos com a maca e o público não acreditava naquilo. Talvez algo que sempre o fazia levantar quando lutava iria funcionar agora... não custava tentar, eles gritaram seu nome - “Misawa! Misawa! Misawa!”... não funcionou. Gritavam incessantemente, mas uma voz frágil chamou minha atenção – era uma menina, que chorava, implorava que seu herói se levantasse. A menina era apenas mais uma das 2300 pessoas que viram o último combate de uma lenda.

Eu não consegui. Não sei se Misawa pensou que faria alguém no Brasil chorar, mas ele fez. Eu não o conheci pessoalmente, eu não sou membro de sua família, sou apenas um cara que via suas lutas pelo YouTube... mas, eu chorei. Chorei por nunca poder ter estado em uma arena lotada, seja o Tokyo Dome ou qualquer arena de esquina e vê-lo lutar; chorei por nunca poder ter usado toda minha voz para poder gritar seu nome e ajudá-lo a se levantar; chorei por que o herói daquela menina se foi. O meu herói se foi.

O wrestling no Japão nunca mais será o mesmo, pois Misawa se foi. NOAH nunca mais será a mesma, pois Misawa se foi. Os corações de quem o admirava nunca mais serão os mesmos, pois Misawa se foi. Mas uma coisa sempre continuará a mesma: o seu Espírito de Luta viverá para sempre... em nós.

Arigatou, Misawa-sama!

Muito obrigado...