Jack-O-Mania XII

Chega a quinta-feira e mais uma Jack-O-Mania toma espaço no WWE Wrestling Brasil. Motivado pelos acontecimentos do último PPV da WWE, o Unforgiven, em especial aos ocorridos com CM Punk, nesta coluna fazemos uma análise sobre o relacionamento entre Wrestlers e Federações!

Confira na continuação do post.

Aconteceu no WrestleMania XII:
Ano de 1996, dois dos maiores nomes da história da companhia subiram ao ringue para uma luta especial: O lutador que executasse um pinfall, não ganharia o combate, apenas ganharia um ponto. No final do limite de 60 minutos, quem possuísse o maior número de pontos sairía do GranDaddy como WWF Champion. Em uma demonstração incrível de habilidade, Shawn Michaels e Bret Hart travaram um dos combates mais lendários de todos os tempos, mesmo sem nenhum dos dois conseguir um pinfall. Como o combate ficou empatado, foi ordenada uma "Morte Súbita", onde Shawn Michaels saiu vencedor, na primeira Iron Man Match da história da World Wrestling Federation.


Nas últimas semanas, um fato muito me chocou no cenário do Wrestling mundial. O lutador CM Punk, até então campeão Mundial de Pesos-Pesados, um face adorado por crianças e jovens, que consegue agradar a homens e mulheres, foi brutalmente desrespeitado em seu ambiente de trabalho: Perdeu seu título em uma luta que nem ao menos pode disputar, em pleno Pay-Per-View, causando muitos abandonos da arena por espectadores que pagaram para assistir. Isso nos faz pensar sobre o respeito que certas companhias dão aos seus lutadores.

Sábado passado enquanto esperava pelo início do programa BWF Combate na All TV (televisão transmitida via internet no site www.alltv.com.br), acompanhei o final da transmissão de outro programa relacionado a lutas (em geral, não somente ao Wrestling): O Último Round, com Marcelo Fontana. Em tal programa, enquanto era discutido sobre o recorrente assunto da falta de apoio dos órgãos públicos e empresários ao esporte de combate, foi feita a seguinte afirmação:
Existem dois tipos de conteúdo que sempre farão sucesso, em qualquer TV do mundo, pois envolvem aspectos intrínsecos no caráter humano desde os mais primórdios tempos das cavernas: a sexualidade e a luta pela sobrevivência/poder, sendo os produtos de combate envolvidos na segunda categoria, ou em casos como algumas federações de Wrestling, nas duas.

De certa forma, repensando sobre isso, não há como discordar. Além da necessidade de reprodução, tão clara e óbvia através dos tempos, a sociedade humana, mesmo quando nem como sociedade era reconhecida, já era baseada em disputas de poder e guerras. De tribos contra tribos, passando por nações contra nações e até mesmo as mais normais disputas indíviduo contra indíviduo, por mais que pareça cruel, é apenas a constatação da realidade. Um mero olhar ao mundo ao redor e será constatado que apenas um leão pode liderar o seu grupo e tal liderança é disputada nas normas impostas pela própria natureza: Imposição de poder do mais forte, ao mais fraco. Porém, apesar de sermos pertencentes ao reino Animalia, existe no Homo-Sapiens um fator diferencial ao resto dos animais: a capacidade de discernir, raciocinar e oferecer julgamento.

Tal mistura de instintos com raciocínio, levou o homem a um patamar de sociedade muito distinto. As disputas por poder e combate por sobrevivência evoluíram, com o uso de armas, organizações e demais artíficios. De certa forma, desde que podemos pensar em combates organizados uma coisa se tornou comum em todos os exércitos: A presença de um Código do Guerreiro.



O Código do Guerreiro é um conjunto de regras, as quais o combatente deve seguir a ponto de manter a tradição e principalmente a HONRA que há em participar de um campo de batalha, coisas como jamais desrespeitar um guerreiro adversário, já que ele se encontra na guerra por algum motivo tão obscuro ou claro quanto o do próprio guerreiro, além da preservação do status social elevado do mesmo. Como exemplos de Códigos do Guerreiro, podemos citar os tão famosos "Cavalarismo" dos soldados medievais europeus, o Bushido (Caminho do Guerreiro) dos Samurais Japoneses ou os códigos dos guerreiros Hindus conhecido como Khatri. A luta livre não se afasta muito disso.

Embora a luta livre seja um esporte de entretenimento, onde os combates possuem final escriptado, cada lutador que sobe no ringue é um guerreiro, um combatente e deve ser encarado como tal. Porém, devemos destacar que a maior diferença entre a luta livre e os outros estilos de combate, seria que na Luta Livre o objetivo não é a destruição do adversário. Na verdade a Luta Livre valoriza muito mais o comportamento e execução do combate do que o seu resultado, já que o mesmo é definido única e exclusivamente através de acertos anteriores ao combate. E como combatentes que são os lutadores, também lhes é cabido Honra e Respeito.

É verdade que não sou e nunca fui um lutador de Wrestling (Apesar de ter praticado Judô por 12 anos de minha vida). Também devo adimitir que jamais, excetuando-se partidas de video-games da WWF dos anos 90, jamais subi em um ringue (coisa que por sinal, sonho em fazer e agradeço a ajudas eventuais dos amigos que puderem me ajudar a passar de sonho a realidade). Tais fatos, certamente não me credenciam a falar sobre o que é SER um lutador, quanto mais sobre como atingir o sucesso, mas na qualidade de admirador, fã e amante da luta livre (sim, pois não é gimmick. Aqui estamos, eu e vocês, por amor a Luta Livre), consegui garimpar histórias reais, que exemplificam o fato e ajudarão a todos a entender o valor de um lutador.
Para tanto, usarei um personagem que citei em minha última Jack-O-Mania: O lutador Brasileiro Nino Mercury.

Nino, sem dúvida é um dos meus heróis. Nascido Gerson Xavier de Paiva acompanhou a Luta Livre Nacional em seu auge e quando adolescente, meados da década de 60, decidiu buscar fazer na sua vida aquilo que era a sua paixão: Praticar a luta livre. Para tal, Gerson procurou a academia de Carlos Auricchio, em São Paulo, mais especificamente no bairro do Brás. Tal academia, talvez a mais conceituada da época, possuía dentre seus freqüentadores alguns dos lutadores mais famosos e importantes de toda a história da Luta Livre Nacional: O Matador Aquiles, Ted Boy Marino, Tigre Paraguaio e até mesmo o mascarado Justiceiro Fantomas. Em tal academia, se faz necessário destacar uma peculiaridade: Os lutadores de renome, que eram os heróis de uma época onde Luta-Livre tinha mais audiência do que o Fantástico em pleno domingo a noite, treinavam em um salão especial com fortes seguranças. Já os lutadores iniciantes treinavam no outro salão, enquanto aspiravam um dia conseguir lutar ao lado de seus ídolos. Era como treinar na mesma academia de Undertaker e Shawn Michaels, porém nunca vê-los, pois as sessões dos profissionais e amadores ocorriam em salões distintos.

Ao saber que tantos dos seus ídolos praticavam no salão do lado, cada um dos praticantes amadores fazia do ato de passar a praticar no outro salão um objetivo de vida, o que não foi diferente com Gerson de Paiva. Gerson praticou na academia por mais de um ano, sem nunca ter a chance de passar ao outro lado, até que em um misto de decepção e tristeza, Gerson deixou de praticar a luta livre.

Gerson possuía como profissão a vida de bancário, mas o desejo do combate era ardente em seu coração. Tão ardente, que mesmo desiludido com a luta livre, Gerson deu um jeito de subir aos ringues: Se tornou praticante de boxe. Peso meio-médio, Gerson chegou a vencer vários combates e ser admirado como um homem de excelentes punhos. Luva de boxe nos punhos, mas em seu coração ainda residia o Wrestling, onde seus heróis estavam.

Gerson voltou aos ringues, na própria academia de Auricchio, abandonando de vez o boxe. Dessa vez, conseguiu finalmente se encaixar em um programa de TV. Não no principal programa da época, mas no extinto "Campeões do Treze" da TV Bandeirantes. Como este era um programa novo, faltava ainda um elemento para conquistar os fãs: Um top-face, um herói imbatível que causasse agitação entre as mulheres, inspirasse os jovens e que fizesse os homens vibrarem na torcida. Nesta mesma época, como é bem sabido, Ted Boy Marino ocupava o posto de mais renomado herói do Wrestling Nacional, atuando no programa de maior sucesso da época. Devido a este fato, foi dado a Gerson de Paiva o papel de se tornar o novo Ted Boy Marino, para alavancar o sucesso da emissora, que já havia tentado, sem sucesso, a contratação do lutador italiano. Aproveitando-se do sucesso estrondoso da novela "Nino, o italianinho", foi criado o nome "Nino Mercury, o Italianíssimo", onde Mercury se referia a velocidade do lutador, comparável somente a velocidade do planeta mais veloz da Via Láctea: Mercúrio.

Ted Boy Marino é italiano e loiro. Apesar de não ser o lutador mais exaltado pelas suas habilidades em ringue, era o lutador mais famoso do momento. Nino, possuía excelentes habilidades, como os velozes drapis (Drop Kick) e Tesouras Voadoras (Headscissors). Apesar de brasileiro, começou a usar uma Gimmick de Italiano (Utilizando um macacão nas cores da Itália como uniforme) e sofreu uma descoloração nos cabelos, que adotaram o estilo Mullets.

O grande fato é que Nino nunca superou ou se aproximou da Fama de Ted Boy Marino obteve. Podemos até mesmo, arriscadamente, comparar a construção de Nino em cima de Ted Boy com a construção de John Cena em cima de The Rock, onde muitos dizem que John Cena foi trabalhado para ocupar o posto de Dwayne Johnson mas apesar de ser muito reconhecido, nunca chegou no mesmo nível do samoano. De qualquer forma o fato é que o Ítalo-Brasileiro se tornou um dos maiores símbolos de resistência e força de vontade do Wrestling Nacional já conheceu.

Nino não lutava por dinheiro (recebia seu cachê, óbvio, porém não precisava do mesmo para viver), pois possuía seu trabalho fixo, cujo lhe rendeu aposentadoria e estabilidade financeira (Vejam o exemplo: Corram atrás dos seus sonhos, mas se resguardem das ilusões). Apesar do mesmo, quando as dificuldades surgiram em sua vida como a saída da Luta Livre da TV, até mesmo a falência de sua federação, o alcoolismo e o trágico acidente tratado na última Jack-O-Mania, Nino jamais voltou a desistir da Luta Livre.

Hoje em dia, mesmo aos mais de 60, Nino continua com a sua equipe de luta livre, mantendo viva a chama e mais do que isso: Repassando a tocha apaixonante da luta livre aos jovens lutadores do interior de São Paulo.

Se eu fosse falar tudo que penso de Nino, certamente daria uma coluna só para isso, mas ao revisitar sua história tão brevemente, vemos que a luta para se manter no esporte, vivo e motivado é enorme, portanto: Chegar ao topo te confere respeito e honra perante admiradores e combatentes. Pergunte a qualquer um envolvido com a Luta Livre nacional hoje sobre Nino Mercury e jamais ouvirá algo diferente de elogios, inclusive sobre a sua vitória em cima do alcoolismo.



E isso transcende as fronteiras do Brasil, nos trazendo de volta a CM Punk. Punk começou a sua carreira no terrível Backyard Wrestling - Lutas de Fundo de Quintal, não profissionais feita por gente não treinada. Gente que ignora o fato de Batista colocar terno só para nos dizer "Não faça isso nem na escola, nem em casa". (Não lembro quem me disse essa no MSN, mas foi boa hehe) - mas logo ingressou na escola de Wrestling "Steel Domain" em chicago. Após um tempo na IWA:Mid-South, finalmente Punk chegou ao que muitos dizem ser o seu auge como lutador: A federação Ring of Honor.
CM Punk lutou no ROH e na TNA ao mesmo tempo, sendo que no ROH feudava com Raven, enquanto na TNA fazia parte de uma stable com o mesmo Raven. Como cronista, é minha função informar aqui que Ring of Honor é um lugar diferenciado. O ROH é, talvez, a federação americana que mais valoriza a qualidade dos seus atletas como lutadores, sendo responsável por revelar diversos combatentes top, como CM Punk, Samoa Joe, Matt Sydal (Evan Bourne) e AJ Styles dentre outros.



No ROH, o que é mais valorizado sem dúvida nenhuma é a honra. A honra de um lutador é tão valorizada em tal federação, que a sua maior regra é seguir o "Código de Honra" - Um conjunto de 5 regras - Não seguir tais regras é a pedir para ser odiado pelo público e aos poucos sumir da federação (excetuando-se poucos casos, como Christopher Daniels, maior heel da história do ROH). Tal código de honra rege em seus mandamentos:

1 - Todo lutador deve apertar as mãos do seu adversário antes e depois de cada luta.
2 - Não devem ocorrer interferências externas, ou seja: Não interferir em lutas de outros e não ter ninguém interferindo nas suas.
3 – Nada de ataques traiçoeiros, por trás do mediador ou fora das regras da luta.
4 - Jamais ferir os mediadores propositalmente.
5 - Nunca ser desqualificado.

Com tantas regras, cabe a cada lutador se tornar popular por merecimento. No Ring of Honor, não há humilhações, muito menos "Jobagem". Em tal federação, até mesmo as regras para se tornar o #1 Contender de algum título são diferentes: São baseadas em um ranking de vitórias/derrotas ou desafios do campeão!

Além disso, o ROH respeita e muito a honra das demais federações. É comum vermos em shows do Ring of Honor, combates valendo títulos de outras equipes como a federação exclusivamente feminina SHIMMER, ou até mesmo da Full Impact Pro-Wrestling, sendo os dois considerados inclusive títulos reconhecidos pelo Ring of Honor! Não podemos esquecer ainda, que o ROH convida lutadores ao redor do mundo para participar de seus shows e tais lutadores, mesmo não sendo regulares, são muito respeitados possuindo chances até mesmo de se tornarem campeões por lá. Vale ressaltar por exemplo, o trabalho do japonês Takeshi Morishima, que se tornou o primeiro campeão não-americano do título Mundial do ROH, além daquele combate mitológico entre o jovem Samoa Joe, até então um dos nome da companhia e um dos nomes mais promissores do Wrestling Mundial, contra a Lenda viva do Wrestling Japonês: Kenta Kobashi.



Para quem não conhece Kenta Kobashi, basta dizer alguns de seus feitos nomeados por uma das publicações mais importantes do mundo do Wrestling: A Wrestling Observer. Lutando desde 1988, conseguiu até hoje ter 23 de suas lutas nomeadas como “combate 5 estrelas”, feito que é raríssimo devido a rigorosidade dos editores, sendo uma dessas, justamente a luta contra Samoa Joe em 2005 (Em toda a história, a WWE/WWF possuiu somente 4 combates “5 estrelas”). Kenta Kobashi também foi nomeado por 3 vezes o número 4 do ranking PWI 500, o que é um grande feito, dado a natureza do trabalho japonês em frente a localização americana da revista, que costuma separar os primeiros postos para as federações mais sucedidas dos Estados Unidos.

Na última semana, tive o prazer de assistir este combate. Em um combate sem muitos movimentos high-flyers, observamos muito bem o estilo “Shoot Fighter” do Wrestling japonês nos ataques fortes, precisos e danosos do japonês. Joe, por sua vez, demonstra uma agilidade e flexibilidade que faz com que duvidemos dos seus kilos a mais. Durante todo o combate, a demonstração mutua de respeito entre combatentes e torcida. Samoa Joe perdeu o combate, após receber diversos Machine Gun Chops (Repetidos Edge Knife Chops) que deixaram seu corpo completamente marcado por hematomas. Samoa Joe sofreu tanto, que em determinados momentos do combate, pensei que o gigante samoano desabaria em choro, mas Samoa Joe mostrou-se forte. Em tributo a grande lenda, Samoa Joe perdeu o combate em um estado de não conseguir mais se levantar, mas em honra ao japonês, Samoa Joe lutou como nunca, disferindo golpes de muita força, impacto e dano, sem perdão. Ao final do combate a torcida cantava “Arigatô” e “Hall of Fame”, o que não supreendeu ninguém já que durante todo o combate, os lutadores receberam o apoio dos ali presentes que gritavam sem parar “This is Awesome!” e trocavam elogios tanto a Samoa Joe quanto a Kobashi Kenta.

Kenta sabe do seu patamar de lenda, mas ao invés do desrespeito ao adversário tão comum na WWE, Kenta se dirigiu até Joe, o cumprimentou após o combate e agradeceu por tão grande oportunidade de brindar o mundo com o melhor do Wrestling mundial mais uma vez.

É bem verdade que não vemos crianças assistindo os shows do ROH em grande maioria das vezes, mas sim jovens, que lotam as modestas arenas (Na verdade os ringues geralmente são montados em ginásios de escolas) para ver excelentes combates.
Ainda se tratando de prêmios, é muito importante ressaltar que desde 2004, Gabe Sapolski recebe o título de melhor Booker do mundo, também pela Wrestling Observer Newsletter.

Encerrando o papo de ROH, pois também poderia fazer uma coluna exclusiva sobre o assunto, CM Punk conseguiu um respeito tão grande, em boa parte através da sua atuação como Heel na Feud com Raven, que foi convidado a dar um passo a mais: ir a WWE.



Punk chegou na WWE e viu que a Honra tão respeitada no ROH, dá lugar a ganância do Mr McMahon que confunde personagem com realidade a cada momento e o Ego hiper-inflado de alguns lutadores que só pensam em si mesmo. Punk, que ficou um tempo na OVW para então estreiar na ECW, recebe o primeiro choque: É proibido de usar um de seus mais famosos movimentos, o Pepsi Plunge. Segundo as lendas, o pivô de tal proibição foi o lutador Triple H, que se sentiu ameaçado a ver um garoto novo aplicando o seu Double Underhook Facebuster (Que é o Pedigree) direto do alto do córner, coisa que não poderia fazer por ter os joelhos comprometidos após anos de Pedigree. O mesmo Triple H acusado de não respeitar lutadores mais novos como Shelton Benjamin e Montel Vontavious Porter nesta última semana.

Apesar de ter alguns de seus ataques limitados, CM Punk faz uma excelente estréia, trabalha duro e conseguir conquistar o título contra outro excelente lutador: John Morrison. Nos meses seguintes, CM Punk faz boas defesas de títulos contra Elijah Burke, o próprio John Morrison, Big Daddy V e The Miz, até que recebe outro golpe em sua honra: Uma derrota valendo o título para Chavo Guerreiro, um lutador extremamente limitado comparado ao Straightedge Superstar, por interferência de Edge.

Que ironia. Um lutador do ROH perdendo um título justamente por uma interferência, uma ferida ao Código de Honra que Punk tanto aprendeu a valorizar.



Após perder seu título para Chavo, Punk ainda sofre durante meses perdendo combates e estando em uma rivalidade sem sentido com o Mexicano que nem de longe lembra os High-Flyers Luchadores.

Mas nem tudo estava perdido para Punk. Durante tais meses, Punk obteve vitória em uma "Luta do Golfo do México", obtendo o prazer momentâneo da vingança em jogar o seu adversário em pleno Golfo do México, mas o principal de tudo é Punk saiu do cenário do título da ECW se tornando o vencedor da Money in the Bank Ladder Match, em pleno WrestleMania XXIV. De maleta em mãos, todos imaginavam o que Punk, como um face faria.



As coisas pareciam realmente andar bem para CM Punk, ainda mais quando ele foi draftado para o RAW. Para quem conhece a WWE, sabe bem que a ECW é considerado apenas "o passo seguinte da FCW", enquanto o RAW é a menina dos olhos da federação. A Credibilidade de Punk subia meteoricamente até que o booker escrever como CM Punk usaria a sua maleta.

A maleta do Money In The Bank já havia sido utilizada por três vezes. Em duas delas, Edge, que era heel, aproveitou-se de um lutador caído para se tornar o novo campeão. É injusto, é sujo, é terrível. É coisa de heel ou covarde. O outro a usar a maleta foi Rob Van Dam, face, que demandou por uma luta contra o campeão John Cena no One Night Stand de 2006. É justo, é honroso.

CM Punk, face, optou pela estratégia de Edge. Se tornou o campeão do maior título da maior brand, porém foi considerado por todos um covarde. Punk defendeu o título por quatro oportunidades, porém 3 delas foram ou por desqualificação dupla ou do adversário, ou até mesmo por interferência externa. CM Punk passou de o mais brilhante aspirante a lenda, para um covarde que não conseguia defender o título por conta própria.

De repente, mais uma vez as coisas começaram a mudar para CM Punk, quando finalmente o campeão consegue defender seu título em um combate limpo, justamente contra um de seus maiores críticos: JBL, mas aí vem o Unforgiven.



Para o Unforgiven, é anunciada a disputa pelo título através do Championship Scramble, com 5 participantes. Outro combate no mesmo PPV seria uma luta não sancionada, que trazia a rivalidade de Y2J e HBK, que carregava raiva por insultos inclusive a família. Em tal combate, HBK aplica uma surra lendária em Chris Jericho, que é derrotado por knockout: coisa raríssima na WWE. Enquanto isso, CM Punk recebe alguns ataques nos bastidores. Alguns chutes, socos, coisa que dói, mas nada comparado a surra que HBK aplicou em Y2J.

O PPV continua e vem o Main-Event. CM Punk defendeu o título em dois PPVs, nunca em um Main-Event, este seria o primeiro. O problema é que a WWE mais uma vez joga a honra de seu campeão no lixo, o retirando do combate para colocar, pasmem, Chris Jericho. Sim, o mesmo Chris Jericho que apanhou em um sangrento combate já estava apto a competir, enquanto CM Punk que apenas sofreu uns ataques nos bastidores, não pode defender seu cinturão.

Injusto é pouco.

O esperado de um lutador que se torna campeão mundial de uma brand, é que ele receba o maior push de todos. Como todos sabem, o costumeiro é que as storylines principais da brand, sejam desenvolvidas ao redor do título, tendo o seu campeão como figura principal do show. O campeão não pode ser fragilizado, ou o título perde o valor. O campeão precisa ir nos house-shows e recebe um aumento de salário. O campeão é o homem a ser batido, o homem a ser copiado, mas CM Punk não recebeu nada disso: pelo contrário. A ele bastou permanecer a impressão de que jamais seria campeão se não fosse a sorte de Batista destruir Edge e deixa-lo ali caído, esperando uma atitude.
Por mais que a WWE se justifique no futuro, o fato é que se tornar campeão do título mundial no RAW deveria ser uma das maiores honras de um lutador, mas para Punk foi uma seqüência de fatos que tentaram mediocrizar a sua carreira e valor. Foi tratado como um Mid-Carder, que não teria condições de conquistar e manter um título em condições normais.

Da mesma forma, Takeshi Morishima volta ao Japão. Após vencer algumas Dark Matches, a Lenda japonesa é dispensada pela WWE. A justificativa de McMahon é que Morishima é gordo. Particularmente se eu fosse dono de uma federação, não esquentaria em ter lutadores acima do peso no calibre de Morishima, Samoa Joe, Vader ou Bam Bam Bigelow.
De toda forma, Japoneses colocam a sua honra antes mesmos de sua vida. Imaginar Takeshi Morishima na WWE, servindo de Jobber, ou nem mesmo subindo ao ringue por não falar inglês seria decadente. Morishima, continue na Pro Wrestling NOAH e Ring of Honor, onde sua honra será respeitada e seu legado propagado.



A WWE é uma das poucas federações no mundo que trabalha com o conceito de Squash Matchs, lutas de poucos segundos onde um lutador é destruído pelo outro em poucos movimentos, fazendo do derrotado uma piada viva. Que tristeza em pensar em alguém que treinou tanto na vida, apenas para apanhar por 10 segundos. Nem mesmo a TNA, atual “rival” da gigante e companhia que segue o mesmo estilo de Wrestling, com muitas gimmicks e histórias, costuma dar esse tipo de tratamento a seus lutadores. Até mesmo seus lutadores menos favorecidos, que mais sofrem derrotas, recebem o respeito de ao menos executar seus movimentos e ter seu tempo em ringue, mesmo que seja para receber derrota após derrota.

Além disso, os lutadores que tem saído da WWE como "Wildcat" Chris Harris, se dizem traumatizados com a maneira da WWE os desprezar, ou aliviados por não ter que fazer mais o trabalho de "jobbers". Existem também os que são como os Highlanders, que nunca se importaram muito em ser jobbers e apenas lamentam não receber mais os seus salários das mãos de McMahon.

A WWE é sim a companhia de Wrestling mais bem sucedida na história da humanidade, mas também é uma das companhias que menos trata os lutadores como guerreiros, preferindo trata-los como produtos, e geralmente (excetuando-se os todo-poderosos main-eventers) dos descartáveis. Pouco importa o que o lutador passou, ou sua habilidade em ringue. O importante é o quanto lutador adere ou não as storylines criadas, o quanto o combatente é paciente para ver sua história ser jogada no lixo enquanto sonha com o dia em que estará no topo novamente. Mas justiça seja feita: A WWE também a empresa que mais recompensa aqueles lutadores que passaram por tudo para um dia chegarem ao status de lenda. E se hoje CM Punk é tão chacoalhado na companhia, aguardem os anos se passarem, ele também é um dos Wrestlers mais promissores em contrato com a WWE. CM Punk precisa agüentar seu nome ser pisoteado e jogado na lama, mas também sorrir com o número de fãs que adquiriu neste curto reinado. Caso CM Punk seja paciente, aprenda a jogar as regras do jogo e jamais se acomode em combates pouco criativos: Em poucos anos o título de Lenda caberá muito bem a carreira do Straightedge Superstar, and that's the bottom line, 'cause Jack...